fevereiro 27, 2012

Elogio à Ignorância (Parte 2)




(JUN/2008! http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=44969&tid=5215038123646433401)

Fato: hoje em dia não precisamos mais de conhecimento; elogiamos a ignorância. É cool falar uma bobagem do tipo: “eu não vim do macaco”. Todos riem! Os poucos que tentam “fugir a regra”, não obstante, recebem logo um apelido pejorativo: “nerd”. Nós, ao contrário do que reza uma famosa canção, só queremos mesmo é comida. Tornamos-nos uma espécie de gado humano e nossa missão na terra é ruminar e engordar. Cheguei a esta conclusão em virtude de dois acontecimentos “hilários”. Espero que todos riam bastante, inclusive.

O primeiro é um misto de ignorância e cinismo; o segundo, por sua vez, é um complemento perfeito do primeiro. Dois episódios que, embora distantes geograficamente, demonstram a extrema negligência educacional que impera neste país.

Alguns dias atrás conversava com alguém. Alguém adulto, pois quero deixar bastante claro que se trata de uma pessoa que encerra todos os pré-requisitos necessários para ser considerado como tal, segundo a própria Constituição Federal. Trata-se de uma pessoa que concluiu com êxito o Ensino Médio, ou seja, relaciono aqui características básicas de uma pessoa com 18 anos de idade. Era uma mulher. Não que o fator “gênero” seja preponderante, em absoluto. Tudo em nome da igualdade dos sexos que é o “modismo” vigente.

Enfim, conversávamos Camila, Priscila e eu. As duas com 18 anos e eu com 25. Em um dado momento da conversa é suscitado o assunto mais intrigante do Acre desde a “Revolução Acreana”: a mudança do fuso horário local em relação ao horário oficial de Brasília. Digo, para incrementar o assunto, que hoje o horário tem base no Meridiano de Greenwich, em Londres, mas que antes já fora em Paris. Até aí tudo bem. O problema deu-se quando Priscila tentou demonstrar sua “inteligência” e disse: “É, Camila, em Londres, capital de Paris” (!!!).

Faz-se necessário um parêntese. Indago-me, incessantemente, desde aquele fatídico momento, onde foram parar a Guerra dos 100 anos, A Queda de Paris, a Revolução Francesa e seu grande marco: a famosa “Queda da Bastilha”. Desapareceram. Foram banidas da historiografia. Para Priscila talvez sejam coisas “bobas” e “insignificantes” no que tange a sua realidade atual. Quanto a isso, talvez até mesmo nós, pessoas “esclarecidas”, tenhamos que concordar. O problema então é: qual a realidade desta menina?

Quero salientar que não estou falando de uma cidadã miserável, estou falando de uma moça de classe média baixa que estudou o segundo grau em escola pública sim, porém, eu também estudei em escola pública. O que está errado, então? O que está faltando? Qual a peça do quebra-cabeça que se perdeu? Como historiador posso apenas cogitar uma teoria para entender este fenômeno, até agora inexplicável, que está tomando o país: O Elogio à Ignorância. Já escrevi um ensaio com o mesmo título há alguns anos, porém nada melhorou de lá para cá. A educação no Brasil só melhora nas propagandas do governo federal.

Elogiamos a ignorância todos os dias quando rimos de situações como esta. Sempre faço afirmações do tipo: isso me choca porque esta cidadã vota e eu, definitivamente, tenho lá minhas desconfianças sobre o tipo de político que ELA, e a maioria dos brasileiros, escolhe. Eu não preciso de um político que, assim como ela, só pensa em “comer”. Esse tipo de político é aquele “velho conhecido” que irá dilapidar o erário público, mesmo sem saber ao certo o que seja isso.

Bom, pelo menos sua amiga, como uma pequena luz a brilhar no fim do túnel, corrigiu-a dizendo: “Londres é na Inglaterra, sua burra”. Priscila ficou tão desconcertada perante sua amiga que resolvi também testá-la: E Paris, Camila, é capital de que país? Bom, Paris, conforme me disse Camila: “É outra história...”

O segundo caso é o do jogador Carlinhos Bala do Sport. A situação em questão desenrolou-se na Emissora Band, onde o cidadão acima participou de um “link” ao vivo com os apresentadores do programa Terceiro Tempo, um dia após ter batido o “timeco” na final da Copa do Brasil.

Até aí nada mais natural, embora eu corrobore com a opinião de um escritor português que diz: “Jogador bom é aquele que fica calado.” O que se seguiu foi o maior elogio à ignorância que eu já tive o desprazer de observar num programa de televisão. O vocabulário do jogador, com a devida vênia, era medíocre, anos-luz pior que o de Camila. Suas frases, para ser sincero, beiravam o ridículo: “Deus me disse que nóis ia ser campeão e a gente fomos”. Bom, além de extremamente ignorante, o rapaz é lunático. Há uma frase que encerra bem a questão: “Se você fala com deus, você é religioso; se ele responde, você é psicótico.”

O que observamos claramente nos dois casos, e agora peço licença para fazer minha singela análise, é que o Brasil está se perdendo no seio de seu próprio desenvolvimento econômico. Antigamente só pensávamos em “pôr comida na mesa”, como sempre dizia meu pai. Hoje, pelo menos, já temos o que comer e, quando nos falta, surgem os Bolsas Esmolas do governo em nosso socorro. Mas isso fez surgir um “novo” problema: e depois de comer, o que vamos fazer? Ver televisão, claro; ou podemos ligar a 5 centavos o minuto, graças às privatizações da Era FHC.

Contudo, algo ainda não se encaixa na matemática do brasileiro: e depois da novela, do telefonema “tão importante”, o que faremos nós? Talvez nossa cultura brasileira baseada em novelas da globo (e agora temos até os MUTANTES do Edir Macedo!) e filmes americanos (sem esquecer do futebol, claro) nos propicie assunto para mais alguns minutos: Você viu a novela ontem? Sim. Foi legal, não foi? Sim. E “Tela Quente”, você viu? Também. Foi muito legal, não foi? Foi. Fim da conversa.Depois disso, dependendo do grau de intimidade, começarão a fofocar sobre a vida de outrem. Retificando: fofocarão de qualquer jeito mesmo. O brasileiro, por sua cultura novelística, viciou-se em falar da vida alheia, pois é o que observa na televisão e, principalmente, nos programas sobre “Estrelas”. Tudo isso não seria tão trágico se, nesse ínterim, não olvidássemos assuntos “banais” como, por exemplo, políticos mensaleiros e sanguessugas, CSS, crise mundial de alimentos, alta do petróleo, etc.

Em tempo: Deus, como bom brasileiro que é, me assegurou, logo após ter “revelado” a Carlinhos o título vindouro do Sport, que isso tudo vai melhorar no futuro, ele só não sabe bem ao certo quando; pois prever título de futebol - segundo mo segredou - é fácil, agora melhorar a educação no Brasil...

Aos que leram, meu muito obrigado...

Espero que tenham gostado.

FelipeZanoN!