Em sua mais lúgubre angústia o artista não pode livrar-nos do que somos. Ele, que experimenta a “verdadeira liberdade”, não pode dizer-nos: sintam-na, toquem-na. Sua verve representa este lampejo, um breve instante, onde tudo frui. Sentir, nunca lhe pareceu um erro. Mas nosso invólucro é demasiado inexpugnável.
A sexualidade, cuja pauta remonta a filosofia, é tratada em folhetins “fascistas”. A existência, tão singular essência, é transportada ao “paraíso” por perniciosas mentes. QUE HORROR, QUE HORROR*! Fellini brada para atrizes que desconhecem a nouvelle vague: cretina, cretina! E transforma interioranas em galinhas.
Munch grita, como um war correspondent: QUE HORROR, QUE HORROR! E Nietzsche transborda do cálice: QUE HORROR! QUE HORROR! Ao passo que Chico exorta: AFASTA DE MIM ESTE CÁLICE (DE HORROR)... Mas como lui dit: experimentar a liberdade é o próprio horror.
Do horror de Marques de Sade, ao horror da guerra ao terror. O primeiro, nobre, o segundo o deveras plebeu. Este cálice de horror cuja púrpura cor denota o próprio sangue. Tão rico de hemácias, o néctar da vida, que pela epinefrina inebria-nos de horror. Do horror do cristão ao horror do somali.
Dize-me Sócrates, qu’é a verdade? “Nada saber”! Ah, bugiardo! Qu'est-ce que c'est? La vérité, je vous le dis, la vérité est la volonté de puissance. Enfim, “como eh difícil acordar calado, se na calada da noite eu me DANO (...) quero morrer do MEU PRÓPRIO PECADO...” Godard, por fim, se diverte em inglês: My greatest ambition is to become immortal then die *! QUE DOCE HORROR, QUE DOCE HORROR!
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Devo explicar o termo “verdadeira liberdade”, por ser um termo particular. Aqui refiro-me a liberdade que o “criador” experimenta no momento da criação. Sendo “criador”, na minha humilde concepção, o verdadeiro artista. Da Vinci, por exemplo, preferiu “proteger-nos de criações” como o submarino, por medo do uso que faríamos dessa tecnologia (vide Hiroshima e Nagazaki + o arrependimento de Einstein)
QUE HORROR, QUE HORROR*! Aqui explico-me novamente: esta exortação que utilizei amiúde é a última fala de Apocalipse now, obra-prima de Coppola (um conselho aos resynkers de plantão: todo resynker tem por obrigação saber a primeira e a última falas do filme).
Godard, Breathless: trecho retirado do filme.
#Fz!