fevereiro 27, 2012

Ama teu próximo, como eu.



Numa manhã qualquer, um garoto meio barrigudo e moreno, queimado de sol, vem com cheirinho de pão. A cesta, cheirando a suor, traz a dor do trabalho diário. A entrega do pão, um favor aos pais, rouba-lhe a infância ao passo que lhe dignifica enquanto homem. Um adulto pueril de sete anos. Aquela manhã, com jeito de cotidiano, disse-me ao ouvido algumas verdades, e procurei não deixá-las ir com o crepúsculo. O menino amigo meu, amigo de todos, amigo do trabalho principalmente, era amado pelos pais.

Tudo bem que o Pai abandonou-lhe pelo alcoolismo, mas lhe restou a mãe a pespegar-lhe asneiras mescladas com amor. E cresceu nosso matutino menino. Cresceu tendo visto um mundo que jamais conheci, e por isso o amo enquanto igual. Igualmente diferentes, observamos o mundo através de prismas distintos. Fomos criados assim, como dizia um docente, e não HÁ como mudar-nos o juízo. A mãe, abandonada pelo alcoolismo e pela concupiscência do marido, escolhe servir a deus. Servir-lhe de lavagem de roupa, servir-lhe de comida caseira. Servir-lhe de todas as coisas possíveis, contando que servisse bem ao Senhor.

Ensinou o filho a servir igualmente, primeiro o pão, depois o povão. Era um servo de deus, nosso menino matutino. Ferrenho e fervoroso, um leão de tribo de Judá, nosso servidor vai servindo. Serve de riso para uns, de juiz para outros. Ele é aquele que mede o tamanho da saia e exige zelo à instituição virgindade. Seu martelo é judicioso, seu conhecimento bíblico fantástico. Diz nosso menino matutino: “de um questionário contendo 900 questões sobre a Bíblia, escolha quatro a esmo e acertarei (e acerta mesmo!)”. Um verdadeiro Dr. das Leis. e deus fala pelos lábios deste neopentecostal.

Todas as noites do nosso cotidiano, lá estão eles falando. Falando de coisas medievais, confabulando jihads, em todos os dias do nosso cotidiano. Eles estão aqui ou no Afeganistão, vendo soldados americanos, ou servindo pães. Ah, o cotidiano, amigo inseparável da rotina. A rotina de ver cadáveres e pães. A rotina de sol a pino, seja aqui como lá. O que significa a COP15, a conferência da inércia, frente a este COTIDIANO. E, mesmo assim, o que se vê nos jornais, nas revistas? A mente humana cria juízes todos os dias, advindos da consciência. A realidade, esta professora, transmuta-os em “meninos-matutinos”, ou “homens-bomba”.

É quando estes “recados” do cotidiano chegam a nós, que lembramos que eles aconteceram, que estavam lá todos os dias e nós não enxergamos. Daí percebemos atônitos que na verdade não ligamos para o dia-a-dia da nossa própria existência. Esquecemos o Collor roubando, enchendo as burras junto ao PC Farias, que acabou sendo assassinado pela verdade. Num lapso, os acontecimentos do painel desapareceram, e elegemos Arruda. Quando vejo uma rã, tenho vontade de chorar, pois lembro de vossa excelência lá no senado com meu dinheiro.Todos os dias isto acontece, mas é a história que julga, por isso a inventamos, o juiz dos juízes.

O historiador, o juiz do passado, por meio de sua visão, dá veracidade aos fatos (vide Marcos Vinícius e o endeusamento ptista, ou a Partilha da África). E enquanto palestinos e israelenses continuam a se matar, nós dizemos que foram suas realidades que engendraram isto. Todas as manhãs, palestinos eram humilhados por judeus que, num sentimento de puro revanchismo, descontavam nos mais fracos o desprezo ocidental (lembrem-se que a Europa tentou  jogá-los na ARGENTINA!!!). Aí o historiador diz: meu povo, olhe para as manhãs destes meninos, no que vocês achavam que isso iria resultar? Em minha singela opinião, geralmente dá em estatística. Tantos por cento, crime. Tantos por cento, culto religioso fundamentalista mais próximo. Tantos por cento, estudo parco e emprego público. Tanto por cento, morte e desaparecimento (nos camburões da vida). Tantos por cento... bom, tantos por cento nos tantos por cento que mesmo um historiador não pode prever.

Pensei em terminar aí o texto, pois todo autor conhece quando o ponto final surgiu. É seu arremate, seu final. Mas desta vez eu perorei sem escrever o que me motivou a narrar esta história. Tive medo, talvez, pois ninguém gosta da verdade. A dúvida do corno realmente é: saber se quer saber. Eu comecei a escrever sobre este grande amigo, um homem que muito estimo, pois acho que suas manhãs já foram escritas há muito tempo, num aforismo nietzcheano.

Em crepúsculo dos Ídolos, Nietzsche, pontuou: ama a ti mesmo - então todos te amarão. Princípio do amor ao próximo. Segundo Nietzsche, a compaixão nada mais é do que hipocrisia. Dawkins, por sua vez, afirma que a compaixão é puro egoísmo travestido. Nietzsche, filósofo, diz o que ela é para nós. Biologicamente é casual, cotidiana, como o macaco que tira os piolhos dos outros para que tirem os seus e não por compaixão do imundo (acho que o inventor do hábito era o mais piolhento, inclusive). Filosoficamente, é inerente a tudo que é humano. O desejo de poder e potência, ou egoísmo, é tudo; de resto, temos as manifestações deste cotidiano na vida, como por exemplo a compaixão.

Em seu aforismo, Nietzsche, peremptório, diz nas entrelinhas: “igrejas são reuniões de massas para enriquecimento de poucos. Ou seja, o “amor ao próximo” é intrínseco ao “amor a si”, pois quem fica rico são os “líderes” (ou guias, reis magos, etc.). O povão fica mesmo é trabalhando (não que eu seja socialista, LONGE disso), seja na Idade Média, Moderna ou Contemporânea (não que eu seja contra, em absoluto). Queria que o epílogo deste ensaio fosse iniciado no ano 5042. Se Nietzsche  e cia. estiverem corretos, como racionalmente creio, uma outra história poderá já fazer parte da História.

“O homem conquista a via-láctea (“pegar carona esta cauda de cometa”...), a fronteira inicial”. O “conquistador” da via-láctea, certamente um dedicado terráqueo de uma manhã qualquer, verá seu nome escrito para sempre nas páginas dos livros acadêmicos. E é aí que o filósofo entraria, pois mesmo olhando para tais feitos, como um casmurro resmungaria: “mas quem é este homem? É bom? Deve ser lembrado deveras? Eu chamaria este cosmonauta de “o mais curioso homem dentre os viventes que saciou nossa curiosidade”. Mas ele usou nossa engenhosidade para matar a sua curiosidade. Tivemos sorte de serem ânsias análogas.

Isso, embora não demonstre o que geralmente ocorre, é um exemplo de egoísmo simbiótico, ou o bom e velho “uma mão lava a outra”. Entretanto, quando o único objetivo é ser lembrado (por qualquer coisa, mesmo aparecer no BBB, ou criar um tópico inútil), é justamente aí que reside o perigo. E quando (e isso é raro), o único objetivo é o enriquecimento pessoal, ou o enriquecimento dos seus, a reprodução dos seus valores? Haveria preço para isto? Assim, imaginei o menino matutino como o Jesus pequenino que, na ânsia de ajudar, acabou com um martelo pregando coisas medievais e mentirosas.

P.s.: peço perdão às mulheres pelo uso excessivo do masculino, por acaso, nasci homem.
Mulheres, no chifre, são vítimas; os homens, culpados.


#Fz!

"Eu estou"


Quando pensamos no caos interno que nos governa e que nos impulsiona universo afora, uma pergunta surge inevitavelmente. Por quê? Com que objetivo? Essa expressão é traduzida, na linguagem popular, para “Qual o sentido da vida?”. Nietzsche chamou a esse desejo de conhecer, vontade de verdade. Todo indivíduo erige para si um conjunto de valores que ininterruptamente o definem enquanto Ser, e aí encerra sua verdade. Sou cristão, sou socialista, sou ambientalista, sou bactéria, sou anarquista, ou, o mais comum, sou capitalista. O leitor, no momento em que lê este texto, analisa o que eu escrevo e compara a sua visão de mundo. Se gostar do texto, provavelmente criará meios de vinculá-lo à sua própria realidade. Se não, buscará meios, a partir daquilo que considera “verdade”, de criticar meu escrito. Em probabilidade, partindo dessas duas premissas, eu teria cem por cento de chance de obter “verdade” sobre o conjunto de meus leitores.

Assim, todo ser humano tem necessidade de verdade. Hoje, considera-se “verdade” o conhecimento científico. Outrora, era o conhecimento religioso que detinha o caráter de verdade. Em suma, verdade, lato sensu, é o reflexo daquilo que uma sociedade caracteriza como sendo seu “bem maior”. Um conhecido músico brasileiro, Tom Zé, relatou que seu avó, ao ver o Sputnik conquistar o espaço, pontuou: “É o fim do capitalismo”. Infere-se daí que o velho acreditou que era o fim da era do capital (HOBSBAWN), da verdade do capital, ou seja, da verdade vigente. O velho pode até ter errado em sua previsão, porém, a partir de sua frase, podemos perceber como um sistema dito indelével é frágil. Naquele dia, sabe-se, americanos em pânico escondiam-se em seus abrigos nucleares, corriam aos supermercados para fazerem provisões ou mesmo dirigiam-se à Igreja mais próxima, esperando um ataque russo do tipo “Star Wars”.

George Orwell, num episódio análogo, causou um pandemônio em NY ao ler trechos adaptados do seu livro “A guerra dos Mundos” ao vivo no rádio. Dois acontecimentos “banais” que ilustram bem quão frágeis são nossas “verdades”. Se o leitor ainda não estiver convencido, peço que retorne à Era Jurássica, bem no dia da queda do meteoro, no México, que extinguiu os grandes répteis. Um antigo desenho animado derivado do filme “De volta para o futuro”, certa vez, lembro, visitou este dia fatídico. A visão de um meteoro daquela monta vindo em sua direção é uma experiência aterradora e bastante reveladora: FUDEMO-NOS! Utilizando argumentos bem mais refinados, Nietzsche procurou demonstrar que a verdade, strictu sensu, nada mais é que uma ilusão. A verdade seria, afirma ele, a maior das nossas ilusões.

Hoje não podemos asseverar que a menor distância entre dois pontos é uma reta, ou o que são precisamente os números primos. Um professor da UFAC vai ainda mais longe. Ele diz: “quem é que me prova que 4 dividido por 2 é realmente 2:” Os nerds da computação já perceberam há algum tempo que há apenas duas “verdades” matemáticas: 0 e 1. Ser ou não ser. Sim e não. True and False. Os números binários são hoje a plataforma, na acepção ampla do termo, de todo nosso conhecimento. Desde o computador no qual digito, até a energia elétrica que o alimenta, tudo está nas mãos dos benditos (ou malditos?) binários. No Google, que substitui nossa “intuição”, na Wikipédia, que substitui nossa “inteligência”; no míssil que chega e aniquila, ou no governo que chega e tiraniza, ou mesmo na Banda Deja vu, lá estão os binários. As ferramentas vão remodelando a modernidade.

Diz-se que certa vez um interlocutor pediu a Sócrates que lhe dissesse uma verdade. O gênio retrucou: Que é a verdade? Os tiroteios nas escolas, os professores enterrados nos quintais, os helicópteros da PM abatidos, os jovens negros executados, o Lula que não sabe de nada, nada mais são do que o reflexo desse mal estar em relação a uma modernidade órfã de verdades (ou valores?) absolutas. Não que tenhamos inventado a violência, pois a Inquisição espanhola me desmentiria, longe disso. Nós, pelo contrário, a banalizamos. Observo, en passant, comentários sobre crimes hediondos e não percebo mais aquele “ar” de indignação. O que percebo, pelo contrário, é um medo mesclado com a certeza da inépcia dos poderes públicos. “Tem que apodrecer na cadeia”, “tem mais é que matar”, “a salvação é mudar a legislação”, etc. Essas cenas macabras e cada vez mais corriqueiras do cotidiano nos lembram diuturnamente a morte e sua inevitabilidade, esta sim um fato. Ao pensar na morte, e agora fecho o ciclo, pensamos, por associação, no sentido da vida. E aí atribuímos “nosso” sentido à vida, sequiosos de ilusão que estamos.

Gastamos mais tempo significando nossa vida do que propriamente vivendo-a. Começamos por um nome, depois um sobrenome. Então, a certa idade, dão-nos um número, cadastrando-nos. Escola, faculdade, cursos profissionalizantes. Depois, para participar da sociedade propriamente dita - a capitalista - vamos a seus multiplicadores (bancos, comércios, administradoras de cartões, etc.) e efetuamos negócios. O termo negócio (do grego) significa “negação do ócio”, da criatividade do ócio mais precisamente. Para os gregos o ócio não era necessariamente algo ruim, pois é nesse período que exercitamos o logos, daí denominarem os mercantilistas, pejorativamente, negociantes, ou seja, negadores do ócio. Hoje é atribuído ao negociante um significado inversamente proporcional ao dos gregos e, parafraseando Dinho Ouro Preto, “a gente se perde no meio de tanto medo de não conseguir dinheiro para comprar sem se vender”.

A vida moderna, alicerçada sobre os valores contemporâneos, transformou-se numa selva repleta de meias-verdades misturadas a mentiras inteiras. E a temperatura aumentando, “O Infalível” à irresponsabilidade exortando, o Edir Macedo relinchando, O Lula viajando, o clima mudando e ninguém ligando. Este é o país dos “caras” (o velho e infalível apelo à vaidade, o negão sabe!), elogio que nos custou bilhões para o FMI e um bocado de propina para os excelentíssimos. Este é o país dos,“eu não fiz nada”, “eu não sei de nada”, “homens incomuns”, “calotes governamentais”, “cuecas e maletas pretas”, “chacinas mil”, onde o brasileiro amiúde exclama, tal qual o impagável Macunaíma*: AI, QUE PREGUIÇA!

• Mário de Andrade. O disposto acima se aplica também a quem inicia leitura pelo final do texto e o que é pior, acha que entende, como um dos que me laureou, nesta mesma paty comunidade, com o seguinte comentário: EU NÃO LI O LIVRO, MAS ENTENDO (...) o restante é irrisório.


#Fz!

A Revista Veja


Bom, sempre começo meus textos falando um pouco sobre meus hábitos para daí partir para uma análise mais geral da condição humana. Eu gosto de pensar que a Revista Veja é apenas uma versão mais refinada da capricho ou, no cenário internacional, da blablah. Ou seja, uma revista de fofocas. Nada contra as revistas de fofocas, pois como eu mesmo disse, às vezes gosto de ler. Não é à toa que Shakespeare, profundo conhecedor da natureza humana, disse que havia algo de pobre no reino da Dinamarca. Imagino a angústia dos que desesperadamente procuram entender a qual sujidade ele se referia (ou a qual farei alusão).

Em suma, a curiosidade sobre a vida alheia é um negócio bastante rentável nos dias de hoje e é basicamente onde essas revistas e jornais angariam seus fundos. Deputado estupra funcionária pública, “beba coca”. Ex-marido de Alessandra Negrini, Otto, é visto chapado em festa de ricaço, “beba Pepsi” (CQC). E dá ibope, vende! Joyce, autor da única obra a ter um dia mundial, o Bloomsday, de maneira impagável escreveu: “O espelho rachado de uma criada (...) o símbolo da arte irlandesa”. Eu, reles mortal, diria apenas: o crucifixo pendurado à cabeceira da cama, um símbolo da cultura acreana.

Ops, mataram o que matou o matado. Tome cuidado. Já li, revi, revivi,. O que ocorre por aqui? Tem tribo isolada por ali, do helicóptero eu vi. A internet é só o ápice, fofoca em tempo real. Redes de relacionamento, sexo entre estudantes no Pará. Está tudo lá, é só comentar. Bola aí um spam, a próxima foto, o próximo vídeo. Devolve meu chip! Na Veja, devolve nosso dinheiro, senhor banqueiro. Daniel Dantas, o homem mais rico do país, sabe bem do que eu falo. E um milhão pro delegado. Nem só de moral ilibada se vive, na merda se põe a mão. Grampeia aí o ministro do supremo então, quero contar seus “capangas“, quero olhar por debaixo das mangas.

Pobre do delegado, foi para o PSOL mostrar a sordidez de nós todos. A dele que não respeita o direito humano alheio, nem como delegado, e tome sigilo quebrado. A dos juízes, que espetáculo dantesco, o negro tentando defender o brasileiro, o branco e sua corja dando-lhe um cala-a-boca, como sempre foi e continuará sendo por algum tempo. Ó, pai, ó! Deixe-me fofocar também, afinal de contas, não sou filho do além? O Renato Russo não entendia como um só deus era três, nem porquê os índios foram e ainda são mortos em seu nome, em nome do “mundo doente refletido no espelho” (rachado de uma criada?). Já dizia o serelepe Chefe Pontiac “eles chegaram com sua bíblia, seus deuses, e nós fomos morrendo”.

Até o Lula sabe disso. Pode não saber com essas palavras, até porque ele é meio analfabeto, assim duvido muito que seja assíduo leitor de Baudelaire (O lodaçal de macadame). Mas do seu jeitão povão, ele demonstra sua sapiência sobre o judiciário. Num comício ele deixou escapar que “deveria falar baixo para que os juízes não ouvissem”. E continuou erigindo e empurrando o colosso Dilma. Para o Lula a Dilma é “nossa” salvação. Quando digo nossa, entenda dele. Ela é a nossa salvação porque representa precisamente a vontade do povão que tanto o ama: o lulismo. É sua “infinita highway” (Engenheiros do Hawaii) para o pleito 2013;2014 e mais oito anos de Lula lá! Ele mesmo insinua quando diz que na Dilma podemos confiar. Oras, se diz isso é porque elle confia.

É uma pena que a Dilma vá perder. Adoraria vê-lo de volta para 2016 – o filho pródigo - presenciando todo espírito olímpico tupiniquim.

Antes que eu esqueça, os países ricos não estão mais tão ansiosos para combater o aquecimento global, pois dois economistas estão duvidando que ele exista. Verdade ou mentira: Ainda não li. Só sei que em Copenhagen está previsto o sepultamento de Kyoto. Essa é a fofoca científica do século, estamos ou não influenciando o clima do planeta! Mais dois do Green Peace foram presos e, apartidariamente, digo: se não tem aquecimento global porque não deixam os caras protestar tranquilamente: O Brasil já afirmou que a posição do governo federal é: ruralistas! À postos! Vamos derrubar! Porque a conta dessa bosta não seremos nós a pagar. E comam transgênicos! (a coca é opcional).

O líder do PT na câmara, em entrevista ao Roda Viva, fazendo um mea-culpa danado, concordou que o apoio de Lula era o pilar de sustentação de Dilma. Para fofocar um pouco sobre o deputado, penso que todos acharam que foi o primeiro homem no mundo a justificar corrupção partidária com a história do universo: “olha, você tem que entender que há milhões e milhões de anos atrás” (!!!). Mundo estranho. Há algo de podre no Reino do PT, a Família Mendes é prova disso. Está aí a prova de que dinheiro não dá em árvore, a não ser que seja na árvore da corrupção. Chora, Chico Rei seringueiro! Agora você tem motivos para chorar!


#Fz!


Psicologia do Esquema

(texto para aprovação no vestibular 2009)

Palco das mais diversas canalhices, a política brasileira remete-nos ao absurdo inexorável. Hoje nem mesmo a série de denúncias publicadas parece aplacar a roubalheira indiscriminada. São ranários, sanguessugas, mensaleiros. Rouba-se tudo. Somos regidos pela batuta da psicologia do esquema, da vantagem ilícita como meio para atingir determinado fim (1).

Atualmente, honestidade confunde-se com palermice, reputação ilibada, com moral deturpada. Chegamos ao ridículo de compor “pérolas” do tipo “rouba, mas faz viaduto” (2), vindas diretamente da popular sapiência. Cada vez que dólares são encontrados nas cuecas parlamentares, aumenta mais o clima de descrença na política nacional.

A imprensa, quando se refere ao Congresso Nacional, associa-o, pejorativamente, ao termo “Balcão de Negócios” (3). São inúmeros os lobistas prontos a oferecer aos nossos políticos as mais diversas vantagens. Prostitutas de luxo, carros importados, viagens para congressos fictícios, vale tudo (4). Nossa mentalidade política ainda é bastante retrógrada (5).

As perspectivas são sombrias, pois agora que terminou a farra de capitais e a crise financeira atingiu em cheio a economia globa (6)l, os bilhões que desapareceram no ralo da corrupção farão muita falta (7). Os poucos que se atrevem a denunciar essa dura realidade são geralmente expoentes da arte e das letras, todavia, sua voz perde-se amiúde no vácuo da ignorância.

Um famoso grupo de R.A.P. (sigla do inglês que significa Ritmo e Poesia), que se autodenomina “Racionais”, escreveu em uma de suas composições, cujo nome é “Mágico de Oz”, o seguinte: “A polícia, o governo no Brasil quem não rouba? Ele (um menino negro e pobre da periferia paulista, personagem central da música) só não tem diploma para roubar”(8). Este, parece-me, é o triste retrato de um povo sem consciência política e social.

Notas do autor.
1. No caso, o lulismo.
2. Referência à Maluf.
3. O filho do Lula que o diga.
4. Tudo mesmo! Até tocar fogo em bandido e mandar sua equipe de reportagem filmar!
5. Quando reli, teria trocado o termo por colonial.
6. Esta redação foi escrita em 2009, vide hoje a situação Grécia e Portugal, simplesmente falidos.
7. Uma pequena fatia do bolo (Tião pagando a conta da filhinha com nosso dinheiro)
8. (sobre o desvio de dinheiro nas contas da ufac)

#Fz!

Iracema Amazonense



Desiludido, vinha eu, quando nossas vidas colidiram. Ao sabor do swing caprichoso de um boi-bumbá, mesmerizado pelo teu balançado, minha dor evanesceu. O olhar de soslaio que me enviava e tua amiga sequer desconfiava. Eu te via bela, cabelo ao vento; tu me vias estranho, vindo de um lugar chamado desconhecido. Hipnotizava-a ao passo que capitulava. E quando, tépido, busquei libertar-me, aprisionaste-me, faceira, na maciez dos teus movimentos. No vai e vem da coreografia, nossos olhares acompanhavam o compasso da música. Cor de jambo, gosto de quero mais.

Fitamo-nos sempre e ficava cada vez mais claro o porvir: corridinhas espúrias, o arfar pecaminoso, a tesa tez. Como um arúspice, adivinhei nas tuas entranhas nossa sorte. As curvas simétricas do meu desejo viam em ti a realização de sua matemática. Disse-me o calor amazonense que era preciso a onça beber água. O doce néctar dos melífluos lábios de uma mulher para aplacar o mormaço. Arrefecer os indeléveis ardeurs da nossa vontade. E tu disseste sim; sim para água, sim para o beijo, sim para meus braços e meus abraços.

Tiveste o que queria, tomaste minha paz. Num turbilhão de dedos, sensores táteis, tu escrutavas meu ser. Teu recato, embebido de luxúria, dominava minha veleidade. Toma-me teu, mata-me agora, mas nunca parta. Não vá, Iracema amazonense, quede-se um pouco mais neste etéreo devaneio. Rijas mamas contra meu peito nu, deixa-me eternizar teu nome nesta ode a tua beleza; tatuá-lo em meu corpo, na minha alma. Ouviste meu coração partir? É por ti, por ti que a intransponível distância de nossas díspares existências roubou-me.

E o tempo sumiu. Busquei-o, este algoz fugidio como tu, mas escapou. Agarrei-me então à lembrança, como o carrapicho à calça, intentando a eternidade daquele momento. Congele! Pare! Abandone-me no fugaz presente, vida maldita, deixa-me estar aqui. Beija-me com força, suga-me ávida deveras, rebenta meu coração que bate descompassado. Meu nome é concupiscência; o teu, perfeição. Fui para sempre seu neste imortal instante que, lépido, apagou-se do presente. E cimentou, na memória, o inefável pesar da sua ausência; diuturno e dileto fantasma.


#Fz!

A militarfora ticotecoana


Naquilo que escrevo, derramo um pouco de tudo que há em mim. Com este espírito, caminhava num desses serviços estatais dos quais sou incumbido, quando, dialogando com meus pares, recordo Jô Soares. Perorava o Gordo: "durante o regime militar, as guarnições eram sempre compostas de três infantes; um sabia ler, outro, escrever, e um terceiro comandava esses dois gênios”.

É claro que ele não fazia qualquer referencia réproba em relação a milicianos de esquina, mas aos generais que conduziam nossa patria mãe gentil; a saber: General de Exército, Brigada e Divisão. Nietzsche, assim como o Gordo, sabia que militares não são forjados para governar, mas para guerrear. Ele mesmo, um militar, reconhecia a importância da vida nos moldes militares.

Quando comandar imiscui-se com governar – o que acontece amiúde – e  esses dois verbos confundem-se, o julgamento da história reserva seu mais ácido vilipêndio. Governar vidas não é tarefa para caserna.  Mas eis que num dia qualquer, Tico e Teco, CEO e Sub-CEO, respectivamente, num encontro estelar, parafraseando uma conversa entre louras, jaziam assombrados por uma inquietante dúvida:

Tico: Que fazer com esta noz estragada, será ela como a maçã podre do cesto? Meu sub-CEO estrelado, venha, UUU, resolver tamanha inquietação de minha alma!
Teco: Chama-me, ó Senhor dos Senhores? Sentes de teus escrotos brotar inquietante dúvida, laborioso mestre?
Tico: Vê, Teco, uma noz estragada, que fazer para que não infeste o cesto? Dize-me!
Teco: Mestre estelar, por que simplesmente não a lança fora?
Tico: Ó, brilhante efebo, que  majestosa conclusão, digna de um subordinado meu! Mas ainda assim temo lançá-la ao lixo...
Teco: Por que, honorável estrelado?
Tico: Pensa comigo: Não é depois de apodrecida a fruta que das sementes brota a vida? Ao lançá-la fora, descarto frondosa árvore que poderia advir de toda esta podridão...
Teco: Ora, então lança-a à lama, que é seu lugar agora.
Tico: Ó, brilhante sucessor, enalteces ainda mais meu cargo!

Tico buscou então o primeiro lamaçal e lançou a noz podre para que pudesse gerar frondosa árvore. Ao executar a ação, vê um transeunte e exorta: 'vê, acabo de lançar esta noz podre à lama, para que possa brotar frondosa árvore'.

O transeunte retruca:
Serviste apenas de ponte, pobre de espírito. Uma ponte esburacada. Pois se tivesses cuidado-a, mais cedo prodigalizaria seus frutos! Vê, em tua ignorância atinavas ter feito o bem, todavia, nada fizeste além de servir de ponte esburacada.

Mas quem és tu, ó, estranho, que fala com tamanha eloqüência – argüiu Tico - pois dentre meus subordinados, todos concordavam que era o mais adequado a fazer.

Eu sou o juiz da História, sou Zaratustra, sou aquele que enfim livrar-te-á da tua miserabilidade estelar.

Tico sai então, rindo de si para si, sem atinar que o estranho vira em sua aura estelar aquilo que realmente era: uma ponte esburacada.


#Fz!

Boleiro, burro, Bruno.



Quando me perguntam jocosamente "para o que vc não tem resposta?", retruco: para a paixão, a paixão é inexplicável e irracional. Ato contínuo o interlocutor,  sendo curioso, perora: e qual (ou quais) sua paixão? A reposta é sempre a mesma: O Flamengo. A única coisa realmente irracional que há em mim acontece quando o time de Zico, Adílio, Júnior, como cantou D2, entra em campo. "Serei Flamengo mesmo que o manto sagrado desbote". Tal qual aqueles torcedores de times grandes de outrora e à beira da falência agora.
Minha geração, por sua vez, compreende mais a de Júnior e seus famigerados 3 gols, já com mais de 40, numa eliminatória contra o Palmeiras. Aquela do `mantos dos mantos`, segundo Nelson Rodrigues, um tricolor. Neste momento lembrei do menino que "queria ser" (do ensaio Bons motivos para não se eu). Um Bruno. "Tem a malícia que cada esquina deu" (racionais). "Sentado à beira de uma calcada seria eu dando adeus a mim mesmo". Bruno brilharia em Brasil 2014. Quem entende o mínimo de futebol não tem dúvida sobre a assertiva. O cara `pegava` muito.
Mas era burro. De pedra. Não tinha o conhecimento acadêmico, catedrático. Era preto e careca num Brasil que flerta com o branco da pele e amarelo do cabelo. Contudo, nos dizeres de um colega: Não existe homem nem feio, nem belo, mas pobre. Um tanto machista, concordo; contudo, completamente errado? Eis uma pergunta. E Bruno, o goleiro jamais campeão numa possível idilica final contra os franceses (cuspo no chão!), ou argentinos (escarro agora!), num maracanaço feliz, conheceu a resposta. Dê dinheiro e poder a um homem e conheça-o. Olá, prazer, sou Bruno, burro e boleiro. E boleiro que é boleiro (Neymar que o diga), gosta de uma Maria chuteira.
E Marias chuteiras, mulheres vulgares (racionais), loiras burras (Gabriel "O Pensador": Como dizem os racionais...), há aos montes.  Viagem para Europa? (Racionais), enfim, uma atriz pornô conquistou o coraçãozinho do Bruninho. Conquistaria qualquer um que a "visse" em ação (Bruno viu DEPOIS...). E como reza o ditado, o último a saber, é precisamente o enganado. Então meu Jorge do Có falou ao ouvido: "Ela vai me pagar por me fazer de idiota e meus amigos rirem da 'mãe do meu futuro filho'". A entrevista do Léo Moura foi chocante para os que lêem nas entrelinhas. Foi a entrevista de alguém que sabia o que se passava, vivenciou nas conversas de corredores o "frigir dos ovos".
Se eu pudesse encontrar o meu ídolo da irracionalidade (minha e dele!) perguntaria somente: "Velho, tava bom lá na hora, caralho?". Woody Alen traduziu de maneira diferente: O homem não tem sangue suficiente para pensar com as duas cabeças ao mesmo tempo. Ou, no dizer dos vovozinhos, 'ver o que ele lançou fora por uma rameira'. Enfim, escutei um grito agora, era meu Jorge do Co novamente: "HÁ UMA LINHA MUITO TÊNUE QUE SEPARA POBRES COITADOS DE MONSTROS ASSASSINOS". Bruno cruzou-a.


#Fz!

Soneto do bom cristão



Mesmo no abjeto macadame francês,
Amiúde caminhavas com jactância;
Exibindo tua ignominiosa tez
Embebida em inexorável ignorância.

Execro-te! Opróbrio prestidigitador!
Tuas invencionices excitam asco!
Verossimilhante caluniador.

À tua corja, notório asno,
O vilipêndio da história:
À justa tua almejada glória!

Chafurdem em suas orações verborrágicas!
Anseio, entrementes, por seu funesto fim.
Tremam em sua idiossincrasia fálica –pois -
Zaratustra falou assim.


Fz!
 

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças



Na malha soturna do que somos sussurros incômodos à aurícula. Taciturnos e lúgubres, inauditos. Que são vocês, que querem de mim; deixem-me! À noite, escura e solitária, a alma queima, grugulha. No vazio existencial de todo vivente, arde ali o ciúme, no inexorável fato do outro. Ali, a efetividade faz-se presente, caçoa, diz-nos: pensam que são! Ah, dileta docente esta, a verdade. Que importa para imemoriável mente que sente, que mente e se incomoda. Nada, faz de nós cavalos do seu egoísmo, trotando ao infinito indecifrável; mo disse Freud. Bardo da psique, nos libertou ao passo que nos limitou. Só podemos ser o que somos, afinal. Entretanto, não é sempre que nos avisam quão duro é sê-lo. Essa geléia, esse universo de bactérias, que chora que jorra que ora, demora a entender. Somos o que podemos ser; sonhos podemos ter? Torpes significados traduzidos da linguagem  idílica para real. Oh, quantos foram seus tradutores, pequenos construtores, tijolo a tijolo, do conhecimento humano, incógnitos. Vivemos a dissimular, sem olhos nos olhos, não mais dizer o que se faz, o que se é. E viva o Batman do pseudo bem. A humildade hipócrita do bom perdedor prevaleceu. Louco alemão mo contou em fantástico aforismo; Ali, – lembra! - onde canta o lunático ermitão a sua mais cara ilusão! Eu, resignado, pensei nas doces palavras do kamikaze “a morte é leve como uma pluma”. E após um curto lapso de tempo, a dissociação da matéria, seu retorno ao universo, abandonando-nos. O inevitável estado ao qual estamos todos destinados; o fim; o nada. O pingüim amazônico, empapado e histérico, de bíblia à mão, diz-me que o tempo está chegando. Que tempo, o da Igreja, o do patrão? que tempo então! Dominados pela burla do tempo, historinhas de ninar, felizes para sempre, nunca teremos um happy ending, pois o espelho da modernidade estará sempre quebrado. Mostrando dia-a-dia, ininterruptamente, para cada narciso, sua inescapável limitação. Devorado por um ente inexistente. E ao pensar em tudo isto, de soslaio um sorriso, sem lamúria ou cinismo: como é bom viver! Herói por herói, fico com o super-homem.






#Fz!

A doce vida




Em sua mais lúgubre angústia o artista não pode livrar-nos do que somos. Ele, que experimenta a “verdadeira liberdade”, não pode dizer-nos: sintam-na, toquem-na. Sua verve representa este lampejo, um breve instante, onde tudo frui. Sentir, nunca lhe pareceu um erro. Mas nosso invólucro é demasiado inexpugnável.

A sexualidade, cuja pauta remonta a filosofia, é tratada em folhetins “fascistas”. A existência, tão singular essência, é transportada ao “paraíso” por perniciosas mentes. QUE HORROR, QUE HORROR*! Fellini brada para atrizes que desconhecem a nouvelle vague: cretina, cretina! E transforma interioranas em galinhas.

Munch grita, como um war correspondent: QUE HORROR, QUE HORROR! E Nietzsche transborda do cálice: QUE HORROR! QUE HORROR! Ao passo que Chico exorta: AFASTA DE MIM ESTE CÁLICE (DE HORROR)... Mas como lui dit: experimentar a liberdade é o próprio horror.

Do horror de Marques de Sade, ao horror da guerra ao terror. O primeiro, nobre, o segundo o deveras plebeu. Este cálice de horror cuja púrpura cor denota o próprio sangue. Tão rico de hemácias, o néctar da vida, que pela epinefrina inebria-nos de horror. Do horror do cristão ao horror do somali.

Dize-me Sócrates, qu’é a verdade? “Nada saber”! Ah, bugiardo! Qu'est-ce que c'est? La vérité, je vous le dis, la vérité est la volonté de puissance. Enfim, “como eh difícil acordar calado, se na calada da noite eu me DANO (...) quero morrer do MEU PRÓPRIO PECADO...” Godard, por fim, se diverte em inglês: My greatest ambition is to become immortal then die *! QUE DOCE HORROR, QUE DOCE HORROR!
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Devo explicar o termo “verdadeira liberdade”, por ser um termo particular. Aqui refiro-me a liberdade que o “criador” experimenta no momento da criação. Sendo “criador”, na minha humilde concepção, o verdadeiro artista. Da Vinci, por exemplo, preferiu “proteger-nos de criações” como o submarino, por medo do uso que faríamos dessa tecnologia (vide Hiroshima e Nagazaki + o arrependimento de Einstein)

QUE HORROR, QUE HORROR*! Aqui explico-me novamente: esta exortação que utilizei amiúde é a última fala de Apocalipse now, obra-prima de Coppola (um conselho aos resynkers de plantão: todo resynker tem por obrigação saber a primeira e a última falas do filme).
Godard, Breathless: trecho retirado do filme.



#Fz!

Paixão futebolística e outras coisas mais... (JUN/2008)


Eu estava assitindo Itália x Holanda hoje a tarde e me vi assim como milhões de brasileiros: olhando para o embate entre dois países que estão do outro lado do Atlântico. E o mais engraçado é que, de uma forma "velada", torcia ou "sentia empatia" pelo belo futebol holandês.

Sou um "apaixonado" por futebol, aliás, pelo esporte em si. Uma possível final entre Brasil e Argentina em uma Copa do Mundo é, para mim, como para milhões, algo como a deflagração da 3ª Guerra Mundial. Lembram-se da Final da Copa América? Adriano? Pois é. Assim sou eu. A Holanda acaba de fazer, neste exato momento, o seu terceiro "tento". Foi um belo gol.

Contudo, às vezes não consigo parar pensar em duas frases sobre a nossa dita "paixão nacional". Uma delas, bastante conhecida em anedotas é: "Por que diabos não dão uma bola para cada um?" e a outra é a célebre frase de nada mais nada menos que Milton Neves - "O futebol é, das 10 coisas menos importantes do mundo, a mais importante (ou algo no sentido)". Então eu percebo que, o futebol, embora um esporte maravilhosamente apaixonante, é apenas um jogo como outro qualquer. Os americanos, por exemplo, não ligam para o "soccer" assim como vários outros países no mundo. Da mesma forma que a esmagaradora maioria do planeta (eu não) não liga para o Baseball ou o Futebol Americano.

Mesmo assim, em minha singela opinião, futebol é tudo; é o melhor dentre todos; é o rei. O Flamengo seria, então, para mim, "acima" de tudo! Ver o Flamengo "meter" cinco no Figueira é o CÉU. "Eu sempre te amarei, onde estiver estarei, oh meu mengo!" Eu tenho uma blusa do Mengão com meu nome! Eu já fui ao Maraca!

Exposto isto, alguns leitores, depois de lerem este texto, concordarão com uma das visões expostas; outros, com o "outro lado da história". Foi mais ou menos aí que esperava chegar, e agora explicar-me-ei melhor: assim como eu, alguns amam o futebol acima de tudo; outros, em contra partida, dizem que é uma coisa inútil (uns até tentarão fazer um "mea-culpa" do tipo: é importante mas... blá, blá, blá...).

Isso é óbvio, pensarão uns agora (talvez você). Se isso acontecer, acredito que descobri porque as pessoas crêem em deus. Por analogia, deus, "embora seja uma coisa inútil, é apaixonante, assim como o FUTEBOL!" Entretanto, gostaria de ressaltar que não concordo com nada do que disse acima. Talvez não concorde com o que acabo de escrever. Vai saber...

(Outros, agora, farão um "mea-culpa"... e assim caminha a humanidade, vai entender!!!)

(Bom, leu quem quis! Abraços, :)... Fui!)

FelipeZanoN!

Elogio à Ignorância (Parte 2)




(JUN/2008! http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=44969&tid=5215038123646433401)

Fato: hoje em dia não precisamos mais de conhecimento; elogiamos a ignorância. É cool falar uma bobagem do tipo: “eu não vim do macaco”. Todos riem! Os poucos que tentam “fugir a regra”, não obstante, recebem logo um apelido pejorativo: “nerd”. Nós, ao contrário do que reza uma famosa canção, só queremos mesmo é comida. Tornamos-nos uma espécie de gado humano e nossa missão na terra é ruminar e engordar. Cheguei a esta conclusão em virtude de dois acontecimentos “hilários”. Espero que todos riam bastante, inclusive.

O primeiro é um misto de ignorância e cinismo; o segundo, por sua vez, é um complemento perfeito do primeiro. Dois episódios que, embora distantes geograficamente, demonstram a extrema negligência educacional que impera neste país.

Alguns dias atrás conversava com alguém. Alguém adulto, pois quero deixar bastante claro que se trata de uma pessoa que encerra todos os pré-requisitos necessários para ser considerado como tal, segundo a própria Constituição Federal. Trata-se de uma pessoa que concluiu com êxito o Ensino Médio, ou seja, relaciono aqui características básicas de uma pessoa com 18 anos de idade. Era uma mulher. Não que o fator “gênero” seja preponderante, em absoluto. Tudo em nome da igualdade dos sexos que é o “modismo” vigente.

Enfim, conversávamos Camila, Priscila e eu. As duas com 18 anos e eu com 25. Em um dado momento da conversa é suscitado o assunto mais intrigante do Acre desde a “Revolução Acreana”: a mudança do fuso horário local em relação ao horário oficial de Brasília. Digo, para incrementar o assunto, que hoje o horário tem base no Meridiano de Greenwich, em Londres, mas que antes já fora em Paris. Até aí tudo bem. O problema deu-se quando Priscila tentou demonstrar sua “inteligência” e disse: “É, Camila, em Londres, capital de Paris” (!!!).

Faz-se necessário um parêntese. Indago-me, incessantemente, desde aquele fatídico momento, onde foram parar a Guerra dos 100 anos, A Queda de Paris, a Revolução Francesa e seu grande marco: a famosa “Queda da Bastilha”. Desapareceram. Foram banidas da historiografia. Para Priscila talvez sejam coisas “bobas” e “insignificantes” no que tange a sua realidade atual. Quanto a isso, talvez até mesmo nós, pessoas “esclarecidas”, tenhamos que concordar. O problema então é: qual a realidade desta menina?

Quero salientar que não estou falando de uma cidadã miserável, estou falando de uma moça de classe média baixa que estudou o segundo grau em escola pública sim, porém, eu também estudei em escola pública. O que está errado, então? O que está faltando? Qual a peça do quebra-cabeça que se perdeu? Como historiador posso apenas cogitar uma teoria para entender este fenômeno, até agora inexplicável, que está tomando o país: O Elogio à Ignorância. Já escrevi um ensaio com o mesmo título há alguns anos, porém nada melhorou de lá para cá. A educação no Brasil só melhora nas propagandas do governo federal.

Elogiamos a ignorância todos os dias quando rimos de situações como esta. Sempre faço afirmações do tipo: isso me choca porque esta cidadã vota e eu, definitivamente, tenho lá minhas desconfianças sobre o tipo de político que ELA, e a maioria dos brasileiros, escolhe. Eu não preciso de um político que, assim como ela, só pensa em “comer”. Esse tipo de político é aquele “velho conhecido” que irá dilapidar o erário público, mesmo sem saber ao certo o que seja isso.

Bom, pelo menos sua amiga, como uma pequena luz a brilhar no fim do túnel, corrigiu-a dizendo: “Londres é na Inglaterra, sua burra”. Priscila ficou tão desconcertada perante sua amiga que resolvi também testá-la: E Paris, Camila, é capital de que país? Bom, Paris, conforme me disse Camila: “É outra história...”

O segundo caso é o do jogador Carlinhos Bala do Sport. A situação em questão desenrolou-se na Emissora Band, onde o cidadão acima participou de um “link” ao vivo com os apresentadores do programa Terceiro Tempo, um dia após ter batido o “timeco” na final da Copa do Brasil.

Até aí nada mais natural, embora eu corrobore com a opinião de um escritor português que diz: “Jogador bom é aquele que fica calado.” O que se seguiu foi o maior elogio à ignorância que eu já tive o desprazer de observar num programa de televisão. O vocabulário do jogador, com a devida vênia, era medíocre, anos-luz pior que o de Camila. Suas frases, para ser sincero, beiravam o ridículo: “Deus me disse que nóis ia ser campeão e a gente fomos”. Bom, além de extremamente ignorante, o rapaz é lunático. Há uma frase que encerra bem a questão: “Se você fala com deus, você é religioso; se ele responde, você é psicótico.”

O que observamos claramente nos dois casos, e agora peço licença para fazer minha singela análise, é que o Brasil está se perdendo no seio de seu próprio desenvolvimento econômico. Antigamente só pensávamos em “pôr comida na mesa”, como sempre dizia meu pai. Hoje, pelo menos, já temos o que comer e, quando nos falta, surgem os Bolsas Esmolas do governo em nosso socorro. Mas isso fez surgir um “novo” problema: e depois de comer, o que vamos fazer? Ver televisão, claro; ou podemos ligar a 5 centavos o minuto, graças às privatizações da Era FHC.

Contudo, algo ainda não se encaixa na matemática do brasileiro: e depois da novela, do telefonema “tão importante”, o que faremos nós? Talvez nossa cultura brasileira baseada em novelas da globo (e agora temos até os MUTANTES do Edir Macedo!) e filmes americanos (sem esquecer do futebol, claro) nos propicie assunto para mais alguns minutos: Você viu a novela ontem? Sim. Foi legal, não foi? Sim. E “Tela Quente”, você viu? Também. Foi muito legal, não foi? Foi. Fim da conversa.Depois disso, dependendo do grau de intimidade, começarão a fofocar sobre a vida de outrem. Retificando: fofocarão de qualquer jeito mesmo. O brasileiro, por sua cultura novelística, viciou-se em falar da vida alheia, pois é o que observa na televisão e, principalmente, nos programas sobre “Estrelas”. Tudo isso não seria tão trágico se, nesse ínterim, não olvidássemos assuntos “banais” como, por exemplo, políticos mensaleiros e sanguessugas, CSS, crise mundial de alimentos, alta do petróleo, etc.

Em tempo: Deus, como bom brasileiro que é, me assegurou, logo após ter “revelado” a Carlinhos o título vindouro do Sport, que isso tudo vai melhorar no futuro, ele só não sabe bem ao certo quando; pois prever título de futebol - segundo mo segredou - é fácil, agora melhorar a educação no Brasil...

Aos que leram, meu muito obrigado...

Espero que tenham gostado.

FelipeZanoN!

Uma história de "terror muito necessária"?


O título me veio de uma resenha que li há algum tempo onde o dito autor dizia que o livro em questão era "uma obra muito necessária" para elucidação dos fatos, sabendo-se lá o que essa expressão queira dizer.

Vamos lá então... (vou, desde já, fazer uso de uma frase que o Jabor geralmente utiliza em suas publicações para que não haja "problemas": LÊ QUEM QUER! Ou algo neste sentido)

Eram exatamente 07h00min de uma terça-feira do "descarrego", como assim chamam este ritual tribal. Era uma cena dantesca. Miseráveis de toda a parte, ignorantes de todo gênero pululavam pelas cadeiras em busca de uma espécie de preenchimento, de algo que "faltava".

O colega que fez o obséquio de me acompanhar é também um segurança da Igreja. Nossa, me perguntei: se até Igrejas estão precisando de seguranças, onde iremos chegar?! Deus não dá segurança o bastante?! Ouxe, se nem as Igrejas estão seguras, quem dirá eu! O rosto das pessoas remonta, no mímino, o tédio. Bocejos e caras taciturnas são a regra geral. Não há sorrisos. Sorrindo, claro, estou eu, por estar, depois de muito tempo, vivendo uma nova história de terror.

O colega me dá o "roteiro" aproximado. Cantos, louvores, a sessão de descarrego em si e depois o pastor fala de novo. O culto começa bem, os miseráveis estendem suas mãos para o céu e pedem que o pastor (ou G-zuis, sei lá!) abençoe suas carteiras de trabalho, carteira funcional, blusas (um senhor levou quase o guarda-roupa inteiro), bolsas, fotos, etc. É interessante, as pessoas cantam de forma uníssona, mas de certa forma sem "paixão". Ficam uns olhando para os outros e todos, claro, olhando para o rapaz que não canta e a tudo observa: eu.

Há um menino insolente e mimado na cadeira de trás e sua vó tenta, sem sucesso, fazê-lo passar por debaixo do tal "manto sagrado" que no início do culto estava enrolado numa enorme cruz. É o tal do descarrego: passar por debaixo do manto e lá vou eu. Obreiros, como me informou o colega, iriam "orar" na minha cabeça enquanto eu passasse.
 Lá estava eu em meio a uma procissão de desesperados, aleijados, excluídos, miseráveis. A turba passava de olhos fechados enquanto eram "abençoados" pelos tais obreiros. Fiquei até meio sem graça, pois é uma cena muito ridícula para ser descrita apenas com palavras. Há, em média, umas 400 pessoas neste dia específico, e todos passam. Meu colega me informa que é um dos cultos mais procurados pelos fiéis.

O pastor começa sua ladainha. É medíocre. Seu conhecimento bíblico beira o ridículo, fico até pensando, na hora, que poderia abrir uma Igreja (afinal de contas, nem imposto elas recolhem) e ganhar um dinheirinho fácil. Ele fala sobre G-zuis respondendo aos fariseus, uma passagem bíblica bastante simples para o povão "entender". Aos gritos ele tenta destrinchar melhor para aquela multidão de analfabetos o que diz especificadamente cada versículo citado. Antônio Carlos é seu nome, o pastor televisivo mais conhecido do Acre. Um pusilânime, em minha singela opinião.

Chega a hora mais esperada. Após um longo sermão achincalhando os "fiéis", chega a hora das "ofertas". É patético. Pessoas que não parecem ter o que comer dão seus últimos centavos para um dito "homem de deus" que está banhado em ouro. Meu colega "oferece" 10 reais. É ridículo, pois eu sei que ele não tem condições financeiras para tal. O pastor agora conta a história de uma "fiel" que ofertou o carro para Igreja. Outra, 30 mil reais. São pessoas de fé, segundo ele, e G-zuis as abençôou.

Ele recrimina sempre o apego às coisas materiais. O correto, em sua visão deturpada, é "dar tudo para G-zuis", e ele "devolverá em dobro". Fico pensando que "dar para G-zuis" se torna, então, o melhor investimento do mercado, posto que paga 100% de juros. O menino insolente agora dá uns "tabefes" na vó e diz querer ir para casa é, realmente, uma experiência massante. Ele levanta e corre, o pastor corre atrás, é uma cena engraçada. O menino diz que quer que G-zuis se dane e todos olham como em "desaprovação". Dou risada. 
 Uma sacola preta passa e recolhe todo dinheiro lançado aos pés do pulpito. Notas e moedas dos mais variados valores são recolhidas e levada para "dentro" (nunca mais serão vistas novamente). Vem a hora de falar sobre o dízimo. O pastor diz que o fiel tem que recolher o dízimo de tudo aquilo que recebe (nada mais conveniente, penso eu). Neste ponto, embora entristecido, acho que até mesmo os pastores e padres têm que comer, então, "que venham todos os dízimos a casa do Senhor". Bah!

Em uma noite, me diz o colega, chega-se a "apurar" mais de 5.000 reais. Então, paro, penso e reflito: Cinco mil reais por dia é um bom número. Religião é um negócio rentável, não é por acaso que vemos Igrejas surgindo no meio do nada.

Neste ponto o pastor chama aqueles que já participaram de rituais afro-religiosos (vulgarmente conhecido como macumba) a "orar" embaixo do tal manto sagrado. Neste ponto observei técnicas de hipnose bastante simples. As caixas de som acompanham o pastor em seu delírio retórico grandiloqüente com música de fundo mesclada com gritos de terror (daí o título do ensaio). As primeiras manifestações não tardam a "aparecer". O "ungido de deus" escolhe duas pessoas e leva para o púlpito para serem "libertas".

É uma cena patética. Pessoas hipnotizadas são levadas a crer que têm algum tipo de demônio. Os fiéis vão ao delírio, o êxtase religioso se dá. Todos levantam a mão junto com o pastor e "usam" o poder "divino" para libertar os endemoniados. Após este espetáculo (todo filmado obviamente), são chamadas as pessoas que sentiram "a presença do espírito santo e foram curadas". Duas velhas, um retardado mental (lembrei da Mariana nesta hora), um 'ex-drogado', e um 'ex-viado', vão até lá e falam de seus "caroços" desaparecidos. "Milagre", balbucia o pastor.


Por fim, ele pede mais um pouco de dinheiro, de forma bastante velada. Diz que o senhor "estava" presente naquela sessão. Percebo uma menina (bastante feia e vulgar) me observando. Passo a olhá-la também. Está na primeira fila e traja uma microssaia e um top. Tem cabelos mal arrumados e, provavelmente, uns 17 anos. Percebo que os motivos pelos quais ela está ali não são bem "sentir a presença do Senhor".

O que gostei nesta experiência foi perceber o quanto as pessoas são induzidas a acreditar, tudo é maquiavelicamente planejado. Todos são levados a acreditar. É um misto de ignorância e "testes de fé". Quem não foi curado é porque não tinha fé suficiente. Pensei eu (lembrando de Edir Macedo): "Quem não gostaria de ter o Cajado de Moisés"? Boa pergunta.

No mais, percebo os comuns, os obreiros, os pastores. A maioria está bocejando, sentindo-se quase que obrigados a estarem ali. O tédio é latente. Uma obreira boceja repetidas vezes enquanto tenta "libertar" os endemoniados. Um outro, aparentando 15 anos, preferiria, sem dúvida, estar em qualquer lugar fazendo coisas de um rapaz de sua idade, como "correr atrás de mulheres". Mas estão todos lá, como cordeiros. São os cordeiros de deus (temo apenas por seu sacrifício).

As "estrelas" do espetáculo são os pastores da televisão. Os intocáveis, os ungidos. Todos ficam sempre no lugar mais alto, mais perto de deus. Quando algum demônio não quer sair, mandam para os tais pastores. É chocante. "Traz aqui", diz um deles. "Queima G-zuis", grita outro. Gritos, rostos amargurados, vidas duras, foi tudo o que percebi. É uma triste cena.

A menina continua se insinuando. Cada qual quer demonstrar mais fé que o outro. Uma mulher vai até o púlpito e faz uma "oferenda" de 1.100 reais e, logo, é entrevistada pelo pastor. Fico decepcionado, pois pensei que pelo menos veria um certo grau de discernimento, contudo, vejo apenas um "bando" de ignorantes, como Lula e CIA, buscando respostas para a situação de miséria e esquecimento em que subsistem.

Fz!

A triste História de Jorge do Có, por Fz!



Aos que forem ler: pessoal, desculpe-me pela delonga, o texto ficou bastante grande, mas acredito que valerá a pena. Obrigado.

A triste história de Jorge do Có

Poderia muito bem ser uma tragédia grega, mas acredito que até mesmo os gregos ficariam constrangidos em escrever tal história. Penso que até mesmo em sociedades tribais, ou até mesmo indígenas exista um acordo tático sobre a tolerância em relação à violência gratuita.

Jorge do Có, nosso herói, era apenas mais um brasileiro que, como bem descreveu Ariano Suassuna em O Auto da Compadecida: “sofre pelo pão de cada dia”. Pois é, mas neste dia 05 de junho deus estava, como sempre, dormindo em seu “trono dourado” e Jorge do Có estava cansado.

Então ele, um brasileiro nascido na miséria, criado na imundície, filho da ignorância, resolveu se vingar. E Xapuri, terra onde viveu e morreu Chico Mendes, novamente “chorou”, como diz uma famosa música da cultura acreana. Jorge do Có se revoltou contra sua condição deplorável, permeada pelo anafalbetismo, misticismo e abandono. O Estado, assim como deus, nunca ligou para ele. Então por que Jorge tinha de se importar?

Assim como Osama, Jorge agora era livre, ele podia finalmente se vingar contra todos os “culpados” por suas mazelas. A única diferença entre esses dois monstros era o inimigo a destruir.Explico-me: Osama acha que o inimigo é o ocidente; Jorge não. Ainda assim há uma semelhança entre os dois, o seu deísmo, que os une inexoravelmente. Ambos ficam de rabo para o céu em “louvor” a sua deidade que, embora imaginária, guia e justifica seu atos. Osama tem Alá; Jorge, demônios.

Ah, Jorge, onde você estava com essa sua poesia concreta-determinista da vida real? Este seu “neo-pós-modernismo” macabro? Você deve ser o “orgulho” do papai. Lembra-se dele ou prefere esquecer aquele “cara” que só te espancava e nunca se importou contigo? Aquele que bebia, assim como você bebe hoje, para esquecer por algum momento sua condição miserável? E mamãe, Jorge, aquela que te chamava, carinhosamente, de “estorvo” e “atraso de vida”? Você pensou neles quando perpetrou seu ato brutal tecendo sua “obra de arte” do absurdo?!

Acredito que sim, afinal você sentia-se um deus: o poder do bem e do mal; ninguém mais ousaria lhe dizer não. Correto Jorge?! Nem mesmo aquele “patrão” filho da puta que te pagava um salário de fome e fazia você ter que escolher entre, ou beber da cachaça mais barata, ou se alimentar. Dizia, quando você pedia aumento, que você não era qualificado para um emprego que remunerasse melhor. Aconselhava-o a estudar. Quem era ele para chamá-lo de BURRO?!

Estudar?! Estudar não era coisa para Jorge do Có não! Afinal de contas havia sempre o Lula para ajudar com os “Bolsas Esmolas” da vida. Estudar “pra quê”, não é Jorge, se com aqueles 15 reais “per filho” dava muito bem para não passar “tanta fome”! Até porque vocês viviam no meio do mato sem direito a saneamento básico, escolas, água tratada mesmo no meio da maior bacia hidrográfica do mundo ou mesmo, quanta bobagem, saúde básica! Logo você que vive na linha da miséria! Ir ao médico é coisa de veado não é Jorge?! Mesmo quando todos os dentes da sua boca caíram e você passou a usar dentadura, quadro agravado por seu corpo esquálido somado à má alimentação.
Ah, Jorge,será que você pensou nisso tudo? A pergunta chega a ofender. Não consigo deixar de pensar: bom, para o governo, 45 reais é uma “pechincha” para deixar o “povão” brasileiro calado e excluído de todo e qualquer serviço de social.

O que você pensou, Jorge, quando finalmente decidiu matar a sangue frio? Diga-me, Jorge, eu sou um cidadão consciente e vou levar suas reclamações e tormentos às autoridades para que isso jamais se repita.

Jorge, então, gagueja, seu português é sofrível. O “Estado” é um conceito demasiado complexo para ele. O que é este tal de Estado, talvez me pergunte ele. Direi, para que ele entenda, que são “os políticos” que ele elege de 2 em 2 anos, como “representantes” de sua vontade. Este, basicamente, Jorge, seria o Estado de direito democrático. Esqueço-me, porém, que hoje em dia todos os brasileiros estão desiludidos com a política e Jorge pragueja: - “É puliticu?”, e concluí: “Tô fudido então!”

E Jorge do Có segue seu destino rumo ao Seringal Boa Vista com uma espingarda calibre 20 em mãos; ele terá sua vingança! “Chega!”, exclama “nosso herói” – “não serei mais humilhado”. E Jorge canaliza sua fúria contra as pessoas que deveria amar; pessoas indefesas. Jorge, todavia, nem imaginar que o Estado (do qual, lá na frente, irá precisar novamente) criou também instituições para massacrá-lo e depois puni-lo. Porém, como já vimos acima, a própria idéia de “Estado” é inatingível para Jorge do Có.

Assim Jorge, tal qual Osama, lança seu ódio contra os inocentes, já que o Estado que o “massacra” não pode ser “varrido” do mapa. Osama matou milhares, foi até onde “podia” (até agora) e não se pode dizer que o “rapaz” não teve trabalho, tendo em vista que perpetrou o maior atentado terrorista da história. Mas voltemos ao “nosso herói”.

Osama tinha dinheiro “à vontade”; Jorge não. Jorge, como sabemos, só tinha sua calibre 20. Seguiu então com seu “plano redentor”. Ah, pensou Jorge, “agora eles veriam”; ele iria fazê-los pagar! Pagar por todas as ameaçadas ignoradas. Afinal de contas, Jorge já não havia espancado várias e várias vezes a esposa e os filhos?! Quem era ela então para deixá-lo, logo ele, o GRANDE Jorge?! Ele, um DEUS, um MESSIAS do caos?! Eles aprenderiam que com JORGE DO CÓ não se brinca!

Ele se aproxima daquelas 5 pessoas. Seu ex-sogro, a única figura “ameaçadora”, aquela que talvez poderia impedi-lo, é logo alvejado pelas costas. A primeira demonstração de coragem de nosso herói. Assim, Jorge, após tornar-se um assassino pensa: “alguém ouviu o disparo, tenho que ser rápido, pois a polícia logo virá!”

É, Jorge, você agora cruzou uma tênue linha que separa “pobres coitados” de monstros sem escrúpulos. Mas antes de fugir você queria terminar sua vingança. Jorge do Có volta-se então para o enteado de 4 anos e degola-o com veemência. MAS VOCÊ QUER MAIS NÃO É JORGE?! Você tornou-se um deus agora, aliás, você é maior do que o próprio deus que inventaram para você. Você tem o poder sobre a vida e a morte! Você vê então seus dois filhos e pensa: “vou atingi-la ainda mais, não bastam apenas o pai e o filho bastardo daquele cara que comia ela antes de mim, tem que ser como aquela propaganda que vi na televisão de um banco do qual jamais serei correntista: COMPLETO!”

A mãe, desesperada ao ver o frio assassinato do pai e de um dos filhos, observa agora o ex-marido decepar a mão de seu filho e dar um “tchau” com aquela mãozinha inerte, como se fosse seu “brinquedo” novo. Jorge delira! É seu “gran-finale”. Será que aquela mãe lembrou das ameaças, como Jorge queria, ao ver seu filho sendo mutilado? Terá ela refletido sobre planejamento familiar? Talvez, porém recordou que sua religião não permite o uso de contraceptivos. No que mais você pensou, mãe?!

Ah, você fez a única coisa que “animais” acuados fazem evolutivamente, por instinto diria eu; você tentou proteger o que restou de sua cria. Isso fez com que você também e libertasse, não foi mãe?!

Contudo, isso não foi necessário, pois Jorge, nosso herói, em seu delírio grandiloqüente, saiu, nos meandros incompreensíveis de seu ato selvagem, correndo e exibindo o troféu recém conquistado.

As lágrimas brotaram novamente em Xapuri e a população revoltada queria MAIS SANGUE. Jorge agora vira nosso “G-zuis”, e o “Sinédrio” quer seu sangue!

Jorge, que havia se escondido na casa de um parente, tem que fugir para a mata, pois os próprios parentes começam a denunciá-lo, já que também temem a turba que está sedenta por mais sangue. Jorge torna-se o antagonista, é o “outro” agora, e tem que ser purificado! O povo quer sangue! A população procura juntamente com a polícia, é uma comoção social.

Com medo de morrer linchado, nosso anti-herói, enfim, termina sua epopéia recorrendo justamente a um aparelho do mesmo Estado que sempre o massacrou: a polícia. Jorge se entrega e é rotulado pela imprensa local como “O Monstro do Seringal”. Jorge, durante o espetáculo da tragédia humana, ri no momento de sua prisão, pois agora ele é “famoso”. O apresentador que entrevista Jorge ao vivo, pergunta os motivos que o levaram a tais atrocidades. O apresentador não se contentando com suas explanações, irrita-se com seu ar de “descaso” com o fato ocorrido. Ele, o pobre apresentador, não sabe que Jorge se libertou! Nosso anti-herói é um DEUS agora!

As fotos do “sorriso” estampam todos os jornais da manhã seguinte. Em outro programa Jorge é lembrado por um repórter que “os presos na penal não serão tão bonzinhos quanto a polícia”. Nosso anti-herói acorda finalmente de seu sono profundo. Em sua cabeça, como que num turbilhão, passam imagens dos presos espancando-o, violentando-o e, depois de mais um espetáculo animalesco como o presenciado no Urso Branco, em Porto Velho, ele será decapitado ou esquartejado talvez. É o mesmo medo que sempre o fez crer em DEUS, aquele velho e bom medo da morte que nos faz sobreviver.

O sorriso da ignorância se esvai e, repentinamente, deixou de “ser engraçado” para Jorge. Talvez ele até tenha “ouvido falar” do massacre no Urso Branco ou tenha acompanhado o caso Isabella Nardoni. Então, nosso anti-herói, pela primeira vez desde que saciou seu desejo de sangue, treme, um calafrio lhe corta o “espinhaço”, como dizem os acreanos. Ele percebe agora a gravidade do seu delito e “cai em si”. O que Jorge faz então?! Sai-se com a única coisa que sua mente religiosa consegue imaginar: “Eu estava possuído pelo demônio... e chora...”

P.s.: Aos que terminaram, meu muito obrigado e espero que tenham apreciado o texto. Gostaria que comentassem para que pudéssemos discutir melhor assuntos como este, antes que fique tarde demais. Vejo que teremos de nos acostumar a ver no Brasil casos como este, atrocidades como esta. Até quando?! Esta, meus caros, é a pergunta de "1 milhão de reais..."

Felipe Zanon